Além de toda a subjetividade humana, o que é real ou não?
O que é a verdade? O dicionário (Aurélio) nos diz que verdade é "conformidade com o real". Complicado isso, já que determinar o que é ou não "real" não é trivial. O que é real para uns, por exemplo, anjos, fadas e duendes, pode não ser para outros.
Segundo essa definição, para determinaram o que é verdadeiro temos que conhecer bem a realidade.E como fazer isso? Como distinguir, além da subjetividade humana, o que é real ou não? Esse é o problema, separar fato de opinião, o que é real "de verdade" do que é apenas fruto de uma visão pessoal ou de crenças de um grupo de pessoas.
Se tudo o que fazemos está ligado de um modo ou outro a quem somos, como, então, definir o que é verdade? Uma possibilidade é estabelecer categorias de verdade. No topo, ficam as verdades absolutas, que transcendem o elemento humano. Elas independem de opinião, de afiliação partidária, de religião, de contexto histórico ou de geografia.
São as verdades matemáticas, as que podem ser afirmadas categoricamente, como por exemplo: 2+2=4. Essa afirmação, uma vez compreendidos os símbolos, é tida como verdadeira. Ela é verdadeira para nós, para os monges de um monastério no Tibet, para sacerdotes egípcios que viveram há quatro mil anos, ou para supostas inteligências alienígenas que existam pelo cosmo afora.
Como esta, existem muitas outras, baseadas em asserções matemáticas que dependem da percepção de objetos no mundo. Se vemos uma pedra podemos associar uma unidade a ela ("uma" pedra). Se vemos uma podemos ver mais de uma e, com isso, construir uma aritmética. São muito úteis essas verdades matemáticas, mas menos interessantes.
Não que a matemática pura seja pouco interessante, pelo contrário. Existem complicações mesmo nela, inclusive ao nível mais elementar, algo que podemos tratar num outro domingo. Mas por serem verdades absolutas e, portanto, longe da confusa realidade humana, não dão muito espaço para a polêmica. A coisa fica complicada quando se discute, por exemplo, a realidade física. O Universo, ou melhor, nossa concepção dele, mudou muito nos últimos 500 anos. Para uma pessoa da Renascença, antes de Nicolau Copérnico (1473-1543), o cosmo era finito, com a Terra imóvel no centro.
O céu, a morada de Deus, ficava além da esfera das estrelas fixas. Era ela que marcava o fim do espaço. Após Copérnico e, principalmente, após Johannes Kepler (1571-1630) e Galileu Galilei (1564-1642) nas primeiras décadas do século 17, o Sol passou a ser o centro do cosmo e a Terra um mero planeta.
O que era "verdade" para alguém de 1520 não era para alguém de 1650. E o universo em que vivemos hoje, gigantesco, com centenas de bilhões de galáxias se afastando uma das outras, é completamente diferente do de uma pessoa de 1650. Qual dessas várias cosmologias é verdadeira? Todas e nenhuma delas.
Se definimos como verdade o que construímos com o conhecimento científico que detemos num determinado momento, todas essas versões são verdadeiras. Mas nenhuma delas é a verdade. Dado que jamais poderemos medir com absoluta precisão todas as facetas do cosmo e da Natureza, é essencialmente impossível obter uma versão absoluta do que seja a realidade física.
Consequentemente, a ciência jamais poderá encontrar a verdade. O que podemos fazer - e o fazemos maravilhosamente bem - é usar nossa razão e nossos instrumentos para nos aproximar cada vez mais dessa verdade intangível. É essa limitação que enobrece a ciência, dando-lhe sua dimensão humana.
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