De 1 milhão de mundos com vida, uma pequena fração terá vida multicelular
Nos últimos 15 anos, astrônomos confirmaram algo que muitos cientistas e, antes deles, filósofos, suspeitavam: o Sol não é a única estrela que tem planetas girando à sua volta. Os planetas nascem juntamente com as estrelas, como conseqüência da implosão gravitacional de nuvens ricas em hidrogênio, hélio, oxigênio e muitos outros elementos.
Ou seja, nosso Sistema Solar não é especial, ao menos no que tange ao fato de ter planetas e luas em órbita de uma estrela central.Vamos então supor que, em média, as estrelas tenham ao redor de si em torno de cinco planetas e um número indefinido de luas. Claro, algumas vão ter mais planetas, outras menos -ou até nenhum planeta. Mas a suposição é razoável dentro do que sabemos hoje.
Como existem em torno de 200 bilhões de estrelas na nossa galáxia, a Via Láctea, nossa suposição implica que cerca de um trilhão de planetas, um trilhão de mundos, circulem pela nossa "vizinhança" cósmica. As aspas são um lembrete de que por vizinhança quero dizer apenas a nossa galáxia, com um diâmetro de 100 mil anos-luz. Uma vizinhança aparentemente grande mas ínfima na escala cósmica, onde existem algumas centenas de bilhões de galáxias, cada qual com seus milhões ou bilhões de estrelas.
Desse trilhão de planetas em nossa galáxia, talvez 1% esteja localizado na "zona habitável", o cinturão que define a distância entre planetas e estrela na qual é possível que exista água líquida: muito perto da estrela o calor evapora a água; muito longe, o frio a congela. No Sistema Solar, a Terra é o único planeta na zona habitável. Mas veja que mesmo essa regra é apenas relativamente útil: Europa, uma das luas de Júpiter -portanto, fora da zona habitável-, tem um oceano de água salgada sob uma crosta de gelo que cobre toda a sua superfície, como um bombom com licor dentro, duro por fora e líquido por dentro.
Desse 1% de planetas com água líquida, em torno de 10 bilhões em nossa galáxia, quantos podem ter desenvolvido vida? Ninguém sabe ao certo. Porém, o que vemos aqui na Terra é que a vida é extremamente criativa e resistente: bactérias foram encontradas sob o gelo das calotas polares, ao redor de chaminés submarinas onde a água ferve e não existe luz ou oxigênio, e até mesmo em piscinas usadas para resfriar reatores nucleares.
Dado que as mesmas leis da química e da física valem em todo o cosmo, não é absurdo supor, e, de fato, não vejo como pode ser diferente, que as leis da bioquímica e da biologia também valham em todo o Universo. Conseqüentemente, é muito provável que formas de vida primitiva tenham aparecido em outros mundos com água líquida. Digamos que 0,01% dos mundos com água líquida tenham vida, um em cada 10 mil. Ficamos com 1 milhão de mundos na Via Láctea com alguma forma de vida primitiva.
Quantos desses mundos desenvolvem seres multicelulares? Mais uma vez, ninguém sabe. Aqui na Terra, a vida permaneceu unicelular por quase 2 bilhões de anos. O pulo para seres multicelulares é difícil. Para seres complexos, como répteis ou mamíferos, maior ainda. Portanto, desse 1 milhão de mundos com vida, uma pequena fração terá vida multicelular. Qual? Ninguém sabe. Digamos 0,01%, o que nos deixa com cem mundos. Deles, talvez alguns tenham vida inteligente, um punhado deles. Ou talvez apenas um, o nosso. Difícil aceitar essa solidão cósmica. Mas pelo que sabemos hoje, ela parece ser inevitável. O que nos torna raros e preciosos.
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