E o que faz a estrela rebolar? Sua corte de admiradores!
Nos últimos dias de abril, uma notícia estampou as manchetes de jornais do mundo inteiro: cientistas descobriram um planeta com propriedades semelhantes às da Terra, circulando uma estrela a 20 anos-luz de distância. A descoberta é importante por vários motivos. Primeiro, porque é extremamente difícil detectar exoplanetas, planetas que giram em torno de estrelas distantes, feito nós giramos em torno do Sol.
Mais difícil ainda é detectar planetas de porte modesto, com massas semelhantes à da Terra. Segundo, porque a estrela central daquele sistema planetário, a Gliese 581, está relativamente perto. Em termos astronômicos, 20 anos-luz não é muita coisa. Como comparação, as estrelas mais próximas do Sol, na constelação do Centauro, estão a aproximadamente 4,5 anos-luz de distância.
Ou seja, a luz delas, viajando a 300 mil km/segundo, demora 4 anos e meio para chegar até nossos olhos. Gliese 581 está apenas 5 vezes mais distante, praticamente nossa vizinha. A descoberta demonstra algo que já se suspeitava; a Terra não é uma anomalia astronômica. Existem outros planetas semelhantes à ela. Essa e outras descobertas indicam que planetas com características terrestres são abundantes.
Numa estimativa conservadora, ao menos um décimo das estrelas na Via Láctea são orbitadas por planetas como a Terra. Como existem em torno de 100 bilhões de estrelas na nossa galáxia, estamos falando de umas 10 bilhões de Terras espalhadas pelo espaço. As observações em si são um feito tecnológico notável.
Os astrônomos usaram um espectroscópio de alta definição, um aparelho que analisa as propriedades da luz vinda da estrela. A luz que passa pelo espectroscópio é captada por um telescópio operado pelo Observatório Europeu do Sul (European Southern Observatory) em La Silla, no Chile.
O método de detecção de planetas usa um efeito bem conhecido, o efeito Doppler: quando uma ambulância se aproxima tocando sua sirene, ouvimos a freqüência do som aumentar; mas quando se afasta, o som se torna mais grave para os nossos ouvidos. O mesmo ocorre com ondas de luz: quando a fonte de luz se aproxima, sua freqüência aumenta e a luz fica mais azulada; quando se afasta, a freqüência diminui e a luz fica avermelhada.
O que os astrônomos detectam é uma variação na luz da estrela, que ora se aproxima e ora se afasta da gente, numa espécie de rebolado cósmico. E o que faz, então, a estrela rebolar? Sua corte de admiradores, em outras palavras, os seus planetas! Quanto mais massa e mais próximos estiverem os planetas, maior a atração gravitacional exercida por eles sobre a estrela e mais ela rebola.
Medindo a variação na freqüência da luz da estrela, relacionada com a amplitude do seu rebolado, astrônomos determinam a massa e a distância dos planetas girando à sua volta. A Gliese 581 é uma estrela vermelha do tipo M, com luminosidade 100 vezes menor do que a do Sol. Se o planeta novo, chamado Gliese 581c, estivesse à mesma distância que nós do Sol, seria um mundo congelado, morto. Porém, está 15 vezes mais próximo.
Se sua atmosfera não for densa como a de Vênus, que é um verdadeiro inferno, a temperatura na superfície pode variar entre 0 e 40 graus, perfeita para água líquida e, quem sabe, a vida. É isso que explica o enorme interesse na descoberta. Se outras Terras são comuns, talvez a vida também seja. O próximo passo é tentar analisar a composição da atmosfera do novo planeta. Caso sejam encontrados traços de água, carbono e ozônio, podemos começar a nos sentir menos sozinhos no Universo.
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